Há 30 anos que passo à porta da esquina da Rua da Rosa com a
Travessa de São Pedro, onde fica o Convento de São Pedro de Alcântara.
Numa curiosidade sobre o que se passaria dentro daqueles
muros altíssimos, que cercam grande parte do quarteirão, tentava adivinhar o
que se passava lá dentro.
Algumas vezes vi o portão aberto, quando uma Irmã saia de
carrinha, pelo portão enorme que enche a esquina.
Se tivesse sorte conseguia dar uma olhada rápida para o fundo
do túnel que dá para um pátio interior, onde nunca vislumbrava ninguém.
Durante uns anos deixei de ver o portão entreaberto e começou
a haver lixo amontoado à porta. Questionei-me muitas vezes sobre o que se teria
passado. Como por vezes ia à mercearia da Aninhas e da Tia, na Rua da Rosa no
279, perguntei-lhe sobre o que se tinha passado. A resposta deixou-me triste:
“Já cá não estão!”.
Quando a 6 de Maio recebi o mail a dizer que tinha sido seleccionado
para entrar na 1ª fase do Programa de Empreendedorismo Intergeracional “UAW –
United at Work”, rejubilei com a minha resiliência.
Quando passados 5 dias a informação dizia que o UAW ia
funcionar no Convento de São Pedro de Alcântara, nem queria acreditar.
A sensação que tive quando pela primeira vez aqui entrei foi
muito estranha. Senti as emoções todas misturadas, como a farinha a margarina e
o leite, numa tigela para fazer bolos.
Não cabia em mim, porque poderia ir começar uma nova fase da
vida. Mas ao mesmo tempo estava num local que sempre tinha desejado conhecer.
Quando cheguei ao pátio, olhei em redor e senti-me como o intruso que entrou
num espaço que esteve sempre resguardado. Subi as escadas e pensei: “Bem, agora
esta casa também é minha.”
Agora, passado mais de um mês de lá ter entrado pela primeira
vez, todos os dias me cruzo com pessoas fantásticas.
Pessoas como eu, que nos últimos anos se sentiram
descartáveis pela sociedade ou pelas empresas onde deram muito de si.
Colegas como eu, que querem ser úteis e que consideram que a
riqueza do país está mais débil, por não estarem a gerar valor. Jovens mais e
jovens menos que queremos sair daqui com um projecto de vida sustentado numa
equipa que todos estamos à procura.
Mesmo que qualquer um de nós não passe à fase seguinte, há
uma coisa que já ninguém nos tira, o orgulho.
O orgulho que temos, de ter participado num processo pioneiro
que poderá no futuro mudar o paradigma da sociedade no modo como olha para as
diferentes gerações que não estão umas contra as outras mas que estão no mesmo
barco, para termos uma sociedade melhor e mais justa.
Mas há uma coisa que não nos podemos esquecer. A Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa cria excêntricos através dos premiados do Euromilhões.
Hoje, felizmente sinto-me um excêntrico e nem gastei 2€ na aposta mínima. A aposta
foi em nós … pessoas.
Tudo isto só foi possível porque há uma Equipa a quem temos de agradecer.
Tudo isto só foi possível porque há uma Equipa a quem temos de agradecer.
À Maria do Carmo, ao Gustavo, ao Carlos, ao Francisco, à
Paula, ao Manuel, ao Duarte, à Senhora da Limpeza, à Senhora da Portaria (das
quais infelizmente não sei o nome, mas que todos os dias nos recebem com um
sorriso) (*), a todos os formadores que nos têm motivado.
O tratar-vos assim não é uma falta de respeito, é o
reconhecimento de uma grande admiração por terem acreditado nas pessoas.
Obrigado!
(*) Na Limpeza, Elvira; Na Portaria, Maria Paula.
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