Não consigo perceber o que se está a passar.
Abre-se o jornal, liga-se a televisão, e repetem-se as
reportagens sobre os emigrantes de hoje.
As minhas dúvidas levam-me a ir ao dicionário esquecido, ver
o significado da palavra emigrar. Talvez ali haja alguma resposta.
Encontro a definição: emigrar
– sair voluntariamente do local onde se vive para se estabelecer noutro.
A realidade do tempo ultrapassou o significado do escrito. Quando
questionadas, as respostas dadas pelas pessoas que agora se vão embora,
dizem-nos que não foi por vontade própria que estão a partir. Foram obrigadas a
isso, porque não vêm futuro no que deixam para trás.
Numa primeira fase partem os homens da família, muitos deles
novos e alguns de mais idade. Posteriormente seguem-se as namoradas ou as
mulheres, por vezes também acompanhadas dos filhos.
Nas décadas de 60 e 70 partiam só homens, muitas vezes a
salto, passando a fronteira clandestinamente, para fugirem à guerra da miséria
e à miséria da guerra.
Na altura o destino era a Europa da esperança, encontrada em
França, Alemanha, Suíça ou Luxemburgo. Hoje, como que a quererem ficar mais
longe do que deixaram, vão para Angola, Estados Unidos, Suécia, Tailândia ou
Brasil. Curiosamente este último país de onde recebemos tantos imigrantes tornou-se
um destino dos nossos emigrantes.
Cinco décadas atrás os emigrantes-homens não podiam regressar
quando queriam pois muitas vezes esperava-os a incorporação ou até a prisão.
Trabalhavam em condições sub-humanas em tarefas que os residentes já evitavam
ter por serem trabalhos pesados, desclassificados e menores. Viviam em bairros
de lata em situações degradantes para a condição humana. Mas enviavam o
dinheiro que conseguiam poupar para casa, para onde queriam voltar num dia de
esperança. Muitos deles só o concretizaram a partir de 74 quando a liberdade e
as condições de vida se alteraram radicalmente.
Hoje em dia, em consequência da evolução dos tempos que já
passaram, os novos emigrantes, já partem alguns deles com viagens de regresso
acordadas com o novo empregador. As condições de vida estão a anos-luz das
gerações anteriores. Ao contrário do que na vaga de emigração meio século antes
tinha acontecido, alguns vão exercer cargos de nível superior ou de direcção, mas
sempre colmatando as faltas dos autóctones. Outras vezes vão completar aprendizagem
e formação base que já adquiriram. Muitos deles, à partida, levam o desejo de a
família mais próxima se lhes juntar posteriormente. Provavelmente nunca
enviarão dinheiro, pois a ambição de construir novas vidas noutros lugares é
muito forte. A única saudade que deixam para trás é a restante família, o sol
ou a comida.
Mas a situação mais confrangedora é a quebra de elos
familiares que poderão nunca mais serem retomados. A separação de gerações de
filhos e netos de pais e avós é assustadora. Criou-se um novo tipo de família
desestruturada, que os contactos via Skype, não vão compensar.
Quando olho à minha volta já não vejo quatro primos que se
espalharam pelo mundo – Inglaterra, Brasil, Estados Unidos e Gana. Já não
encontro amigos que estão em Londres, Estocolmo, Boston e Luanda.
Alem dos que já não estão connosco, por razões naturais, a
família e os amigos está a reduzir-se.
Será que assim este país tem futuro?
Eles fogem! Acho que só não foge quem não pode ou já não tem
forças para o fazer, reagindo.
Há um ditado português, que diz: “Longe da vista. Longe do coração!”
Temos todos de combater este sentimento.
Socorro-me de um outro ditado: “A Esperança… é a última coisa
a morrer!”
Havemos de dar a volta a isto tudo que nos cerca e oprime!
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