Quando, passado um dias, estava a
limpar o pó da cómoda, já com gerações na família, onde tinha encontrado o
cartão de origem e destino desconhecido com o texto “Por ti minha alma soffre”,eis
que surgiu um outro entalado numa gaveta mais a baixo com os dizeres “O teu
amor é meu consolo”.
Fiquei perplexo.
Teriam os dois sido trocados
entre as mesmas duas pessoas?
Teriam mesmo sido enviados ou
ficaram retidos na timidez daquela época? Se foram utilizados, qual terá sido o
primeiro e o segundo a ser entregue?
O segundo poderia ser considerado
algo atrevido ao tempo, por ter uma imagem fotográfica de um beijo na boca
talvez só concretizado após um amor aceite, longe dos olhares alheios.
Será que o primeiro cartão encontrado
não foi enviado, tendo sido guardado e substituído pela compra deste último,
mais explícito e mais directo ao amor de partilha solicitada?
Mas estranhamente ao virar o
postal ele não tem nada escrito. Nenhuma palavra a reforçar o sentimento.
Nenhum nome a quem se dirigia. A probabilidade de que quer o primeiro cartão
quer o segundo não terem sido enviados é muito grande e quase certa.
Questionei-me de imediato.
Quais teriam sido os meus
antepassados que teriam adquirido os dois cartões?
Quantas gerações já teriam passado
desde então?
Terá sido um avô, ou mesmo um
bisavô?
Mas porque é que ponha sempre na
minha cabeça a hipótese de ter sido um ou dois homens a comprarem os cartões?
Porque é que não podem ter sido uma ou mesmo duas mulheres distintas a
comprá-los e a não os terem enviado.
Uma coisa é certa. “Por ti minha alma soffre” e “O teu amor é meu consolo” não cumpriram
as suas funções. Terão morrido nos fundos das gavetas, tal como um ou dois amores
que não se terão concretizado.
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