O Plano



 
 
Encontrámo-nos todos na mesma sala. É o início de uma aula. A distância que separa cada um desde a saída da escola mede-se em períodos tão díspares como poucas dias, anos, ou mesmo gerações.
As quase vinte pessoas presentes, nunca se encontraram e portanto não se conhecem.
Chegámos ali todos com uma premissa comum: estamos todos desempregados.
O modo como cada um encara o actual estigma pessoal e a sociedade, que os pôs de lado, temporariamente ou definitivamente, vai reflectir-se no comportamento de cada um ao longo do tempo de convívio.
Agora a escola, chama-se eufemisticamente formação.
Aqui, a separação das origens sociais de cada um que fizeram algumas das pessoas presentes terem na sua escolaridade seguido o ensino público ou o privado, não existem.
Aqui, o que separa uns dos outros são experiências de vida de cada um, ao nível pessoal e profissional. Como cada um de nós encara a vida, o que queremos dela para nós e para os que nos rodeiam, sejam familiares, amigos ou simples conhecidos.
Aqui, o que vai vir ao de cima ao longo dos dias que estivemos juntos e partilhámos vivências pessoais é que surgem três grupos distintos que vão coabitar.
Uns que estão amargos, ou mesmo feridos da situação em que se encontram e não são capazes ou não querem sair de um buraco onde se esconderam e de onde não conseguem sair só por si.
Um segundo grupo de quem apesar de se encontrar muito desanimado com a actualidade que vive, não perspectiva que exista uma luz ao fundo de túnel que os ajude a reagir, apesar de já terem passado anteriormente por outros períodos difíceis que já conseguiram ultrapassar.
Um terceiro grupo, mais pequeno, onde eu próprio me incluo, que considera que o sair da situação em que todos nos encontramos, do lado de cá da professora, só passa por nós e como encaramos o futuro, seja ele de médio prazo ou longínquo no calendário. Só passa como, independentemente da idade ou das fases da vida já percorridas, queremos aprender e fazer coisas novas. Como podemos mudar de vida profissional, apontando a aprendizagem nesse sentido. Como nos sentimos bem com nós próprios quando fazemos voluntariado, seja cultural ou social. Estamos a dar aos outros um pouco de nós, nem que seja a troco só de um obrigado. Um agradecimento que muitos de nós nunca recebemos de quem nos empregou e que nos descartou.
Bem, mas o curso de formação por onde todos passámos, cada um com o seu olhar pessoal era de “Plano de Negócio”.
Na última aula, no quadro branco estão quatro equações:
PASSIVO = OBRIGAÇÕES
ACTIVO = BENS + DIREITOS
ACTIVO = PASSIVO + CAPITAL PRÓPRIO
CAPITAL PRÓPRIO = ACTIVO – PASSIVO
Nestas quatro linhas estão algumas das regras de um negócio, mas se não nos dedicarmos sempre e constantemente ao capital próprio da nossa vida, com a nossa valorização pessoal e profissional, então atingimos a falência pessoal.
 
 

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