Era uma vez… Não isto não pode
começar assim pois não é nem uma história infantil, nem uma lenda, mas sim um
conto de humor negro.
Bem mas vamos contra as regras e
afinal vamos começar com Era uma vez
… um senhor que vindo da cidade, quis comprar uma quinta, como era moda no seu
estrato social. Nessa quinta só havia uma macieira e ele como era um megalómano, no final de 2009 contratou dois jovens turcos para tomarem conta da sua árvore. Só que aquilo não correu nada bem e os jovens como não percebiam nada de agricultura e parece que só perceberiam de números a coisa deu para o torto.
A macieira quando tinha sido
comprada, integrada na quinta, tinha sido podada e limpa das maçãs podres,
ficando no entanto esquecidas ainda algumas estragadas, por falta de
experiência ou incapacidade ou por os dois jovens não terem conhecimentos da
actividade agrícola.
Eles pensavam que bastava olharem
para a macieira, sem tratarem dela, como podarem, sulfatarem e recolher as
maçãs na época devida, que ela iria prosperar e dar belas e apetitosas maçãs.
Eles idealizavam que cada maçã sabia o que tinha de fazer, deixando assim a
macieira por sua conta ou em auto gestão. Acharam, com o pretexto, da
reorganização dos ramos da macieira, que o voluntarismo resolvia tudo, não
ligando a algumas chamadas de atenção de maçãs mais lúcidas que já tinham visto
o que tinha acontecido por incúria com as outras macieiras, já desaparecidas,
que anteriormente existiam na quinta. Idealizavam que só o facto de mudarem
algumas maçãs de ramo de vez em quando resultava em melhorias na macieira.
Tentavam adaptar os ramos aos frutos em vez de escolherem as maçãs certas e
boas para cada braço da árvore.
Diziam sim a tudo que o dono da quinta os mandava executar, sem nunca o contrariarem. Os ganhos com uma só macieira, e de qualidade duvidosa, não permitiam nem suportavam os investimentos gigantescos que o dono da quinta queria fazer. Eles olhavam para o lado, ignorando a realidade.
Passado um ano e desprezando o
estado em que tinham deixado aquela solitária macieira, optaram por ir para longe,
deixando a árvore ao abandono. Diziam que iam para uma nova quinta onde as
macieiras davam mais frutos e eram mais rentáveis. Diziam que lá longe por cada
euro gasto, ganhavam dois. Um deles chegou mesmo a dizer que quem ficava
naquela quinta de uma só macieira “que se amanhasse a arranjar dinheiro para
tratar dela”. Aquele “brinquedo” já não os entusiasmava. Mas de facto para eles
a agricultura não lhes dizia nada. Só lhes interessava a coluna do deve e principalmente
a do haver. A única experiência que tinham era de manipular os números,
enganando quem olhasse para as contas.Diziam sim a tudo que o dono da quinta os mandava executar, sem nunca o contrariarem. Os ganhos com uma só macieira, e de qualidade duvidosa, não permitiam nem suportavam os investimentos gigantescos que o dono da quinta queria fazer. Eles olhavam para o lado, ignorando a realidade.
Como não percebiam nada de
agricultura, e para continuar a ocultar a incapacidade total para a actividade,
levaram com eles, um outro colega, também megalómano, que já tinha passado por
várias quintas onde tinha trabalhado e que tinham acabado na penúria. Mas este
apoio tinha uma coisa boa, encaixava-se perfeitamente nas ambições desmedidas e
ideias incongruentes que eles próprios tinham, dado ele também ser um bluff
como profissional, como eles eram.
Mas entretanto acontecia uma
coisa engraçada com as maçãs daquela árvore. Tal como os ovos que têm impressos
letras e algarismos, aquelas maçãs também o tinham.
Era a D12, a quem chamavam
professora mas nunca ninguém aprendeu nada com ela. Chegava a vangloriar-se que
por todas as macieiras por onde tinha passado, sempre conhecera maçãs
incompetentes. No mesmo ramo mais abaixo estava uma mais pequena com S00 que
apesar de ter sobrevivido à poda inicial de mudança de dono da quinta, ainda
hoje não sabe o que faz naquela árvore.
Havia a V33, a deitar fumo e
cheia de bicho. Está sempre a olhar para dentro duma arca velha de anos que
está em baixo. Está sempre segurada pelos suspensórios pela A67 que tenta que o
pendurado não cai em desgraça.
Uma das maçãs tem as letras H00 e
está sempre a dizer a culpa não é minha, é de A,B ou C. É uma maneira de ver as
coisas. Ocupa parte do seu tempo a jogar bilhar com as outras maçãs.
No mesmo ramo está R11, que
ninguém sabe muito bem o que faz naquela árvore. Há quem diga que lê o que
outros pensam, mas não se lhe conhece nenhum resultado prático. Houve um
momento que chegou a dizer que queria ser dono da quinta.
Na ponta do ramo está ainda a G90
que canta muito desafinada, mas acha-se uma cantora óptima. Já andou por outras
paragens e ainda não sabe mas vai herdar as funções da R11 que irá entrar em
despique com outra maçã e ser expulsa da macieira.
No início de 2011 G00, depois de
ter estado quase dois anos sem se desenvolver e nada fazer para o bem comum,
recebeu como prémio tomar conta de umas pequenas maçãs que estão espalhadas no
chão. Como achou que ia ter muito trabalho arranjou uma ajudante que ainda nem
tem letras nem números estampadas, por ser muito pequena e insignificante.
Há também a S31 que acha que
percebe muito de agricultura e culinária mas tem um feitio tal que é difícil as
outras maçãs a aturarem. Junto dela está a maçã S99, mirrada, que tem um
sotaque esquisito e está sempre a fazer exercício. Mas esta maçã tem uma
vantagem que é ser amiga da mulher do dono da quinta. Também há uma, a F88 de que
não se lhe conhecem qualquer dote mas diz-se que é da família da mesma senhora.
Existe uma maçã, a M31, que
apesar de sempre ter sido podre, tenta fingir que se afasta das outras amigas
podres mas tem tal comportamento só para ver se se safa da próxima poda.
Há duas maçãs, a J22 e a A22, que
têm alguma afinidade pois andam sempre a bajular, quem pensam que a cada
momento vai melhor tratar delas. Já várias vezes estiveram perto de serem
podadas, mas, como são apadrinhadas pelo dono da quinta ele nunca deixou que
tal acontecesse.
Houve uma maçã, a T99, a mais
podre de todas, que esteve pendurada e só atraiu lagartas e outras porcarias
durante 40 anos. Havia quem achasse que os seus conhecimentos eram muito
importantes após a mudança de dono da macieira. Veio a provar-se que deveria
ter sido podada há muitos anos. Contaminou outras maçãs e só contribuiu para o
mal-estar nalguns ramos da macieira.
Mas o dono da quinta continuou a
ignorar os apelos constantes das maçãs sãs. Optou por não dar ouvidos àqueles
apelos que poderiam levar a cortar onde estava o mal. Escolheu o pior caminho. Ao
mesmo ambicioso a que se tinha associado lá fora, e para onde tinha enviado os
dois jovens ignorantes sobre a actividade agrícola, deixou também tomar conta
da quinta de uma macieira só.
Aquele amigo, com quem dividiu a
posse da quinta nos dois países, só veio piorar a saúde da macieira. Em vez de
trazer desenvolvimento, veio trazer ainda mais prejuízos dados os negócios
escuros nalgumas áreas em que já estava envolvido. Espiava em quintas alheias,
até tendo outros negócios não muito bem identificados e dignificantes.
No início de 2011, algumas maçãs
de boa qualidade, a R88 e a T33, não se sabe bem porquê, foram cortadas e
deportadas para uma zona alta do campo, na tal quinta do amigo. Nessa leva
também seguiu a P11 que apesar de ser de qualidade duvidosa e pouco sumarenta,
tinha muita experiência de quintas, mas mais virtuais.
Com o início deste ano apareceram
três novas maçãs. D55, F21, A76. Foi uma tentativa do dono da quinta querer
mostrar que havia alguém que percebia de agricultura, tentando fazer esquecer a
má escolha inicial com os dois jovens incompetentes. Das novas maçãs, as duas
primeiras foram enxertadas e tinham sido tiradas de uma outra macieira de
grande qualidade. Foi uma tentativa de fazer renascer aquela árvore, com a
seiva nova que trouxeram.
A terceira tinha sido inesperadamente podada de uma macieira concorrente e por vezes desesperada parece já estar arrependida de ter mudado de quinta, apesar do apelo constante das outras maçãs sãs. Passados dois anos, a A76, veio a surpreender pela negativa e desiludir quem tinha depositado grandes esperanças nela, estando imbuída do espírito do “salve-se quem puder”.
A terceira tinha sido inesperadamente podada de uma macieira concorrente e por vezes desesperada parece já estar arrependida de ter mudado de quinta, apesar do apelo constante das outras maçãs sãs. Passados dois anos, a A76, veio a surpreender pela negativa e desiludir quem tinha depositado grandes esperanças nela, estando imbuída do espírito do “salve-se quem puder”.
O dono da quinta, de vez em
quando põe-se em frente da árvore e fala com ela. Mas fala de uma forma tão
metafórica que as maçãs, por respeito, não respondem, nem contradizem, mas de
facto não percebem nada da mensagem.
Aliás ele estava tão alheado do que se passava na quinta que nem reparava que as maçãs podres lhe estavam a dar cabo da árvore. Não cresciam, só se lamentavam. Estavam cheias de lagartas e outro tipo de bichos e doenças. Só cochichavam pelos cantos da quinta. Na prática não queriam que a árvore desse boas e saborosas maçãs. Só queriam conspirar e denegrir as maçãs insatisfeitas. Só olhavam para os benefícios pessoais que retiravam de estar agarradas àquela árvore.
Aliás ele estava tão alheado do que se passava na quinta que nem reparava que as maçãs podres lhe estavam a dar cabo da árvore. Não cresciam, só se lamentavam. Estavam cheias de lagartas e outro tipo de bichos e doenças. Só cochichavam pelos cantos da quinta. Na prática não queriam que a árvore desse boas e saborosas maçãs. Só queriam conspirar e denegrir as maçãs insatisfeitas. Só olhavam para os benefícios pessoais que retiravam de estar agarradas àquela árvore.
Certo dia as maçãs sãs, já
desesperadas, juntaram-se e exigiram ao dono da quinta: cortem já as maçãs
podres da nossa macieira, ou senão daqui a uns tempos estamos todas no chão!
Mas o resultado continuou a ser o
mesmo. O dono da quinta, nada fazia. Os jovens que ele tinha inicialmente
contratado só andavam daqui para ali e fingiam que andavam a resolver
problemas, com o argumento de que estavam focados na resolução.
Nunca nenhuma das maçãs percebeu
o que isso queria dizer, pois não se via nenhum resultado prático na melhoria
da saúde da macieira.

Um dia, o tal amigo que tinha levado as maçãs sãs para a sua quinta, decidiu pôr um capataz da sua confiança, para tomar conta da quinta.
Começou a ver que os gastos que havia com a frota de tractores, alfaias agrícolas e pessoal na quinta era desmesurado para uma só macieira, que dava frutos de qualidade duvidosa.
Dado ter gasto bastante dinheiro,
com a perspectiva de ganhar outro tanto facilmente, chegou à conclusão que
afinal se tinha metido num buraco que em vez de benefícios só lhe tinha trazido
problemas. Decidiu abandonar a quinta e ficar com a outra lá de fora, lá longe.
Para isso não queria nem ver um
dos jovens que tinha sido o culpado de ter sido ludibriado e combinaram
verem-se livres dele. Agora já nem o dono inicial da macieira o quis com ele e
arranjou maneira de ele ser despachado para qualquer lado. Mas os estragos
perduraram por muito tempo na macieira. Tinha provocado danos de difícil
recuperação.
No final de 2011, o dono da
quinta, dado já não ter cara para enfrentar a macieira, pediu ao jovem que mais
viajava, e que a tudo dizia que sim, que fosse falar com as maçãs tentando
explicar-lhes que o problema da macieira iria ser resolvido.
Com o passar do tempo, o estado
da macieira continuou a degradar-se. A árvore que perspectivou mais de dois
anos antes, ter um futuro melhor, entrou num processo de morte lenta anunciada.
As maçãs podres e incapazes
sobreviveram, contribuindo negligentemente cada vez menos para o bem global.
As maçãs sãs começaram a duvidar de que teriam algum futuro. Sentiam-se impotentes e incapazes, para com a vitalidade, que tentavam manter, conseguir que a macieira se mantivesse de pé. Estavam sempre e todos os dias a remar contra a maré. Tinham cada vez mais dias em que o desânimo estava entranhado.
As maçãs sãs começaram a duvidar de que teriam algum futuro. Sentiam-se impotentes e incapazes, para com a vitalidade, que tentavam manter, conseguir que a macieira se mantivesse de pé. Estavam sempre e todos os dias a remar contra a maré. Tinham cada vez mais dias em que o desânimo estava entranhado.
No início do ano seguinte, em
2012, o estado da macieira degradou-se ainda mais. Não havia dinheiro para
pagar a água para a rega. A luz faltou alguns dias pela mesma razão. Não foi
possível comprar o produto químico para a sulfatar. Os empregados da quinta nem
sempre recebiam no dia combinado a paga do seu pouco trabalho. A árvore esteve
perto de ser deitada abaixo, por estar praticamente morta. Não nasceram novos
ramos na macieira, nem novas maçãs. As que resistiam estavam cada vez mais
mirradas. Esteve mesmo perto do fim previsível.

Mas o prestígio e nome do dono da quinta, não podia ir abaixo, nem ser abalado. Por isso também arranjou um capataz para tentar ainda fazer alguma coisa da quinta e da solitária macieira. Deu-lhe algum dinheiro para tentar endireitar tudo.
Não abertamente disse a algumas maçãs, às vegetavam à sua volta, que iria haver novo trabalho de poda que permitisse manter a macieira viva.
O dono da quinta durante o ano ainda fez um enxerto na macieira colocando uma maçã afilhada C00. Não adiantou nada em relação às melhorias da macieira, nem da quinta, pois nunca produziu nada.
As maçãs podres vendo o futuro em perigo começaram a movimentar-se e uniram-se novamente. Aproximaram-se do dono da quinta, do capataz actual e do jovem sobrevivente. Mais uma vez como os parasitas, bajulam-nos e cercam-nos tentando afastá-los das maçãs sãs e assim salvar a pele.
A macieira continua dividida em
duas partes. A parte com futuro, onde estão as maçãs sãs e a parte degradada
onde imperam as maçãs podres que arrastam a macieira para a sua morte e são
amparadas pelo dono da quinta.
Algumas maçãs podres subiram para
um ramo mais alto e fomentam a guerra contra as maçãs sãs. Prognostica-se mais
uma vez uma escolha errada da parte do dono da quinta e do seu jovem protegido.
O capataz do dono da quinta
complica uma situação o que provoca que durante mais de 2 meses nenhuma maçã é
vendida.
Uma das características iniciais do dono da quinta e dos seus dois jovens turcos que era partilhar com as maçãs o que se passava na quinta deixou de existir. Já ninguém falava com as maçãs sãs e fomentava-se a insegurança, a especulação sobre o futuro da quinta e da sua macieira que definhava.
Sabe-se por notícias vindas do exterior que a quinta lá fora está pelo mesmo caminho desta, a cair de podre. A incapacidade de enfrentar a realidade e a necessidade de medidas correctas são idênticas.
O dono sem rosto inicia em 2013 a maior poda da macieira, com o argumento que não há mercado para tanta maçã e a macieira não é sustentável.
Decide e informa quais as maçãs
que têm de ser cortadas. Dão prioridade a ficar com a maioria das podres, mas
têm de manter algumas maçãs sãs pois são as que tentam trabalhar para o bem
comum.
Inexplicavelmente todas as maçã
boas e sumarentas para serem vendidas, são deitadas fora, como se não tivessem
utilidade.
As podres vão lá ficar e morrer
na terra. Só sobreviveram até então porque foram sempre indevidamente
protegidas por escuros compadrios.
As sãs vão sobreviver porque
sabem trabalhar e não têm medo de novos desafios, seja nesta quinta ou noutra.
Defenderam sempre a macieira onde estavam, mas se foram rejeitadas por
incapacidade do dono da quinta e das suas escolhas, vão para outra macieira ou
outra árvore de fruto onde o seu mérito e profissionalismo serão reconhecidos.
Vamos acabar como começámos.
Era uma vez … um senhor que vindo da cidade, quis comprar uma
quinta, como era moda no seu estrato social.
Passaram-se alguns anos. As modas
mudaram e os caprichos foram abandonados!
Desta história podem-se tirar quatro conclusões.
a)
Quando
vir maçãs podres, onde quer que seja, deite-as logo fora antes que elas dêem
cabo de tudo.
b)
Cuidado
com as maçãs aparentemente sãs, que se revelam oportunistas para salvar a pele,
custe o que custar.
c)
Os
seres submissos são traidores e é melhor não confiar neles.
d)
Fuja
dos caprichos alheios. Vá atrás dos seus sonhos, ninguém os vai procurar por
si.

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